Mulheres agricultoras lembram como abaixo-assinado entregue à então vice-governadora Emília Belinatti, em 1996, deixou um marco para a criação do hospital.

Foto: Jornal de Beltrão | Encontro em 1996, quando mulheres agricultoras entregaram a vice-governadora Emília Belinatti um abaixo-assinado com milhares de assinaturas pedindo a construção do Hospital Regional do Sudoeste.

A agricultora familiar Zelide Catellan Possamai, hoje com 65 anos, recorda-se do ano de 1996 como um marco entre as mulheres agricultoras. Depois de pelo menos uma década de organização, as mulheres do campo conseguiam enfim entregar nas mãos da então vice-governadora Emília Belinatti um abaixo-assinando com milhares de assinaturas pedindo a construção do Hospital Regional do Sudoeste (HRS) do Paraná. O ato foi consagrado como o primeiro marco oficial pela luta do HRS, que só iniciou as construções no ano de 2006 e foi inaugurado em 2010.


“Antes do Hospital Regional a gente tinha um hospital com o SUS [Sistema Único de Saúde], a Policlínica. Mas a Policlínica passou a ser particular e acabamos ficando só com o Hospital São Francisco. Então a saúde era bem precária, porque o Hospital São Francisco não vencia atender a região toda e foi aí que começou a luta pelo Hospital Regional”, conta Zelide, que na época era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. “Aí foi passando o tempo e a gente pensou, com a Comissão Regional de Mulheres, em fazer uma luta para o Hospital Regional. Por isso dizemos que foi um movimento de mulheres que conseguiu o Hospital Regional.”

Luta de mulheres
A mobilização das mulheres agricultoras olhou para um cenário hostil da saúde pública. O município, que não contava com Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal, por exemplo, precisava levar até a capital, Curitiba, grávidas que sofriam com as longas viagens de mais de 500 quilômetros. Tratamentos de alta complexidade também ficavam aquém e deixavam a saúde em uma situação de sucateio.


Foi só na terceira gravidez da agricultora familiar Terezinha Sukenski, de 65 anos, que ela conseguiu fazer o pré-natal. Ainda era 1988, mas, segundo Terezinha, o SUS não dava conta da demanda. “A saúde era precária e a gente não tinha conhecimento. Não sabia nem como funcionava a questão da saúde, mas depois foi melhorando, graças à organização, à luta”, pontua.


Com as mulheres do campo à frente dessa pauta, aumentou-se o coro que pedia um Hospital Regional. Terezinha diz ainda que o desejo nunca foi um hospital para Beltrão. O objetivo era que os atendimentos ficassem mais perto do povo da região, a fim de evitar os desgastes físicos e psicológicos, além de garantir um direito universal: o direito à saúde.


Quem abraçou a causa foi a deputada estadual Luciana Rafagnin (PT), que assumiu uma cadeira como suplente no legislativo paranaense no ano de 1999 e criou o Projeto de Lei 653/1999, que deu origem à Lei 13.199/2001. O projeto autorizava o início das obras do HRS, em 2001.


“Na época da sanção da lei, o então secretário de Saúde do Paraná, Armando Raggio, chegou a declarar que era favorável à construção do hospital, mas a lei nem chegou a sair do papel. Foi somente a partir de 2003, com a eleição de Roberto Requião [em 2002] para o governo do Estado que pudemos iniciar as tratativas para a construção do hospital.

Inúmeras reuniões e conversas com autoridades e técnicos do governo foram feitas nesse sentido. Em paralelo ao debate no Estado, foram movidos esforços também junto ao governo federal, no mandato do então presidente Lula. O ministro era o atual senador Humberto Costa [PT-PE], que disse que o governo federal seria parceiro do Estado nessa construção. Mas não precisou porque o Estado acabou assumindo sozinho o compromisso com a obra. Portanto, entre 2001 e 2010 foram inúmeras as reuniões e tratativas para que a lei de criação do hospital saísse do papel e fosse finalmente colocada em prática”, aponta a deputada Luciana, que também sugeriu, em projeto de 2007, que o nome do hospital fosse uma homenagem ao médico e líder da Revolta dos Posseiros de 1957, Walter Alberto Pécoits.


Apesar das movimentações, o hospital passou a ser bandeira política e alvo de promessas eleitorais. A própria inauguração estava prevista para quatro anos antes de fevereiro de 2010, mas impasses com recursos, pagamento de funcionários e empresas responsáveis pela obra impediram a celeridade.


Oficialmente as portas foram abertas às 11h do dia 26 de fevereiro de 2010. Naquele dia, o Paraná recebia um monumento na região de Água Branca, em Francisco Beltrão: 12.236,13 metros quadrados de área construída com 182 leitos, sendo 30 para UTI e alas de maternidade, pediatria, clínica e cirurgia. “Este hospital nos inclui no mapa o Paraná”, disse Requião no dia da inauguração, ovacionado por quem lembrou que ninguém mais morreria ou sofreria para ir à capital ou a Cascavel buscar atendimento. O Sudoeste do Paraná ganhava seu primeiro hospital regional.

Fonte: Jornal de Beltrão

Autor: Isadora Stentzler

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