Estimular as meninas e adolescentes a conheceram as diversas profissões na área da pesquisa científica. Este é um dos meus objetivos ao protocolar projeto de lei para criar a Campanha de Incentivo e Valorização das Mulheres e Meninas na Ciência.

Entendo que é fundamental que existam iniciativas do Poder Público que estimulem mulheres e meninas a seguirem as mais diversas áreas de ensino, inclusive as áreas de tecnologia, engenharia e exatas.

Ainda há poucas mulheres cientistas no Brasil. As mulheres ocupam, principalmente, as profissões e os afazeres ligados ao cuidado, e que é preciso superar estes estereótipos de gênero, a ideia de que determinadas profissões são masculinas e outras femininas.

A Campanha será permanente e desenvolvida no decorrer do ano letivo, nas instituições públicas e privadas da educação básica e do ensino superior. Serão realizadas oficinas, seminários, palestras e debates nas escolas. Também será criado um acervo digital sobre a história das mulheres cientistas do Paraná, com base na trajetória profissional e sua contribuição nas pesquisas científicas, entre outras ações.

A ideia surgiu de uma conversa que tive com quatro estudantes da UFPR , que participaram em 2023 do Parlamento Universitário, iniciativa da Escola do Legislativo da Assembleia Legislativa.

No dia 11 de fevereiro é celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Essa data foi estabelecida em 22 de dezembro de 2015, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, com o propósito de promover a conscientização sobre a importância da igualdade de gênero no campo científico.

A igualdade de gênero na ciência não pode se resumir apenas a uma data no calendário oficial do estado, é importante assumir um compromisso de longo prazo na promoção da igualdade de gênero.

De acordo com estudos realizados pelo Centro de Estudos Miguel Murat de Vasconcelos (Ceensp), com o tema “Mais Meninas e Mulheres nas Ciências: subsídios para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”, foi identificado que as mulheres têm baixa representação em posições de destaque e liderança, principalmente no campo da ciência.

Conforme o instituto Serrapilheira, as mulheres são 57% do total de estudantes na graduação, 55% das bolsas de iniciação científica e apenas 36% entre os que recebem bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq (aquelas destinadas a doutores com uma trajetória acadêmica sólida). No mundo, por sua vez, apenas 30% dos cientistas são do gênero feminino.

Separei aqui alguns exemplos de destaque de cientistas brasileiras. Que as futuras gerações possam se espelhar no trabalho dessas mulheres incríveis!

Carolina Panis

Bioquímica e professora-doutora da Unioeste investiga há mais de 10 anos a agressividade do câncer de mama em agricultoras no Sudoeste do Paraná. Em 2021 recebeu prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2023, o estudo foi apontado como referência em artigo que discute as prioridades das políticas de saúde pública no Brasil na revista SCIENCE em relação à contaminação por agrotóxicos e câncer.

Foi indicada para a galeria da World Intellectual Property Organization (2023) e ganhadora do Prêmio Marcos de Moraes 2023 (3º lugar) pela Fundação do Câncer – INCA. Ainda recebeu o 34º Prêmio de Ciência de Tecnologia do Paraná, considerada a maior honraria que um cientista pode receber no Estado.

Enedina Alves Marques (1913-1981)

A curitibana entrou para a história como a primeira mulher negra a se formar em engenharia no Brasil. Nascida em 1913, de família pobre, ela cursou engenharia e se formou aos 30 anos no Instituto de Engenharia do Paraná (IEP). Trabalhou no Plano Hidrelétrico do Paraná e atuou no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu. Para muitos, a Usina Capivari-Cachoeira foi seu maior feito como engenheira. Entre suas obras, destacam-se o Colégio Estadual do Paraná e a Casa do Estudante Universitário de Curitiba (CEU).

Bertha Lutz (1894-1976)

Foi uma cientista e bióloga especializada em anfíbios. Filha de Adolfo Lutz, referência da zoologia médica no Brasil, estudou na Universidade de Paris. Descobriu uma nova espécie de sapo e, em 1919, se tornou pesquisadora do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Para além da ciência, participou da Conferência das Nações Unidas em São Francisco, em 1945, onde lutou para que a igualdade de gênero fosse incluída na Carta das Nações Unidas.

Nise da Silveira (1905-1999)

Uma das primeiras mulheres a se formar em medicina no Brasil, ela foi uma médica psiquiatra reconhecida mundialmente por sua contribuição à psiquiatria, revolucionando o tratamento mental no Brasil. Dedicou sua vida ao trabalho com pessoas com transtornos mentais, manifestando-se radicalmente contra as formas que julgava serem agressivas em tratamentos como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia.

Elisa Frota Pessoa (1921-2018)

Elisa foi uma das primeiras mulheres a se formar em física no Brasil. Ela ingressou na Faculdade Nacional de Filosofia – hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) – contra a vontade de seu pai, que via no casamento o único destino para meninas como ela. Ainda estudante, começou a se destacar nos estudos sobre radioatividade, participou da fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, onde coordenou o Laboratório de Emulsões Nucleares e estudou na University College de Londres.