08/11/2005 – Em uma entrevista com duração de 2h15 ao programa Roda Viva, que foi ao ar na noite de segunda-feira (7), na TV Cultura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ter certeza da inexistência
(Foto: Ricardo Stuckert, da Presidência da República)
08/11/2005 – Em uma entrevista com duração de 2h15 ao programa Roda Viva, que foi ao ar na noite de segunda-feira (7), na TV Cultura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ter certeza da inexistência do chamado “mensalão”.
Lula lembrou que, para conseguir aprovar as reformas da Previdência e tributária, o governo costurou um pacto com os 27 governadores, e foi este acordo que permitiu a aprovação dos projetos. “Essa idéia de mensalão me soa a folclore”, afirmou.
Ele disse acreditar que, se deputados forem cassados, será por outras razões – motivos políticos, por exemplo. Com relação ao processo na Câmara contra José Dirceu, Lula afirmou que o deputado tem experiência política, coragem e inteligência para fazer o enfrentamento no parlamento. E ressaltou que não há nenhuma prova contra Dirceu.
“Se formos analisar pelo conjunto de informações que temos agora, ele será cassado por uma decisão eminentemente política”, avaliou.
O presidente também recordou que o único deputado cassado até agora, Roberto Jefferson, perdeu seus direitos políticos justamente por não ter provado a denúncia que fez sobre a existência do “mensalão”. Lula também desmentiu a afirmação de Jefferson segundo a qual o presidente teria dito que daria um “cheque em branco” ao petebista.
Caixa dois Lula condenou o que chamou de terceirização das finanças do PT por parte do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e classificou o caixa dois como uma prática “intolerável”. Ele negou que sua campanha eleitoral, em 2002, tenha recebido dinheiro de financiamento paralelo. Os recursos não-contabilizados foram para as disputas nas prefeituras, afirmou, com base em informações do ex-tesoureiro.
Ao explicar declaração proferida em um pronunciamento recente, no qual disse se sentir traído, Lula afirmou que esse sentimento foi causado por “alguns companheiros que tiveram um comportamento que não coadunava com a história do PT”.
Preferiu não citar nomes e explicou que não poderia acusar alguém sem provas. “Vamos aguardar os resultados das investigações. Todos os que cometeram práticas equivocadas traíram o princípio que o PT tinha colocado em prática. E vão ser punidos”, afirmou.
Lula defendeu que todas as denúncias sejam investigadas até o fim, mas disse que as CPIs não podem se precipitar. Ele lembrou que o governo passado impediu a instalação de CPIs e que ele não obstruiu nenhuma das três que estão em curso durante seu governo.
O presidente disse que o PED (Processo de Eleições Diretas), que levou mais de 300 mil petistas às urnas, foi uma demonostração da força e da grandeza do partido. Para Lula, o fato mostra que o PT está vivo e disposto a brigar. “O PT tem mais arranque que o Carlos Tevez”, brincou, comparando o partido ao atacante do Corinthians.
Reeleição O presidente voltou a dizer que ainda não sabe se disputará a reeleição e questionou o medo que setores da oposição têm em relação à possibilidade de ele voltar a se candidatar.
“Não sei por que o medo, porque foram eles que criaram a instituição da reeleição. Possivelmente é pelas coisas boas do meu governo.”
Questionado sobre a frase “eles vão ter que me engolir”, Lula explicou que ela foi proferida em um contexto diverso: na ocasião, Lula disse que desafiava as pessoas a apontarem alguém que tivesse ouvido de sua boca que disputaria a reeleição. Mas completou que, caso decidisse concorrer, “eles” [os adversários] teriam de engolir.
Impeachment Questionado sobre a intenção do PFL de pedir seu afastamento do cargo de presidente da República, Lula afirmou que o partido não tem autoridade nem argumentação para fazê-lo. Ele lembrou a declaração do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, em que defendia “acabar com a raça” de petistas por 30 anos.
Celso Daniel Para Lula, a morte do prefeito de Santo André Celso Daniel foi resultado de um crime comum, e não de uma ação política de pessoas com interesses contrariados.
“Não há envolvimento do PT ou de petistas”, afirmou. Lula lembrou que, após a morte do prefeito petista, pediu ao então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que acionasse a Polícia Federal para apurar o caso paralelamente à Polícia Civil.
“Ambas investigaram e deram o caso por encerrado. Acho curioso que, toda vez que chega perto de ano eleitoral, essa história volta à tona.”
Economia O presidente acredita que os juros devem continuar a cair. Ele explicou que, com a queda gradual, o governo está dizendo à população que a economia está melhorando sem a necessidade de “mágicas” ou planos de ocasião.
Ele citou avanços como o controle da inflação, o recorde da balança comercial e o aumento da massa salarial. O presidente lembrou ainda que seu governo está criando a cada mês 107 mil vagas formais, enquanto a gestão FHC gerou uma média de 8 mil por mês.
De acordo com ele, seu governo terá a maior geração de empregos dos últimos 22 anos. Mas não quis dar números, afirmando que será o “o máximo possível”.
Cuba Sobre as acusações de que sua campanha eleitoral de 2002 teria recebido dinheiro do governo cubano, o presidente disse que a denúncia é totalmente inverossímil.
Ele lembrou que Cuba é um país muito miserável para emprestar dinheiro para campanhas a outros países. Lembrou, ainda, que a principal fonte desta versão, publicada pela revista Veja, é uma pessoa que já morreu.
Filho O presidente disse que não identificou problemas no fato de seu filho Fábio Luís fazer negócios com a Telemar, lembrando que trata-se de uma empresa privada.
Segundo Lula, o trabalho do filho tem sido reconhecido, e os programas produzidos por sua empresa têm mais audiência na TV do que a MTV.
“O filho do Presidente da República não tem que ter privilégio, mas não pode ser proibido de seguir sua vida”, afirmou. Lula contou que a Comissão de Valores Imobiliários investigou 30 contratos da Telemar e não constatou nenhuma irregularidade.
Roda Viva Lula foi entrevistado pelos jornalistas Paulo Markun, âncora do Roda Viva; e por uma bancada de antigos apresentadores do programa: Heródoto Barbeiro, editor-chefe e apresentador do Jornal da Cultura; Augusto Nunes, colunista do Jornal do Brasil; Matinas Susuki, diretor da rede de jornais Bom Dia; Rodolfo Konder e Roseli Tardeli, diretora-executiva da agência de notícias da Aids.
O programa de número mil foi gravado na manhã desta segunda-feira e durou 2h15. Foi a nona participação de Lula no programa – a primeira como presidente.
*** Leia mais no site do PT (www.pt.org.br):
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– Berzoini: Lula foi espontâneo, equilibrado e tranqüilo