Após 60 anos fizeram justiça por toda a violência que meu avô, Leopoldo Chiapetti, sofreu durante a ditadura militar no cárcere.

Na nova versão do documento, emitida pelo Ofício do Registro Civil das Pessoas Naturais, de Erechim, Rio Grande do Sul, consta a informação de que ele teve “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964.” A mudança atende a uma resolução do Conselho Nacional de Justiça de 13 de dezembro do ano passado.

Emoção muito grande para nós e para minha tia Leda, que na última sexta-feira, foi até Erechim, para receber o documento, que reconhece oficialmente a verdadeira causa da morte: tortura e violência de Estado durante a ditadura militar.

Leopoldo Chiapetti, agricultor, líder comunitário e ex-subprefeito do distrito de Mariano Moro, no Rio Grande Sul, foi preso no dia 30 de abril de 1964 sob acusação de integrar o Grupo dos Onze, organização política de base ligada ao ex-governador Leonel Brizola. Detido em Severiano de Almeida e depois transferido para o Presídio Regional de Erechim, foi submetido a intensas sessões de tortura física e psicológica, conta a família.

Mesmo internado sob custódia policial, Leopoldo não resistiu às sequelas. Seu falecimento foi registrado em 21 de maio de 1965, com a causa da morte atribuída, na época, a “choque operatório” — versão que nunca foi aceita pela família.

O caso de Leopoldo Chiapetti foi reconhecido oficialmente pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) em 2004. Desde então, a luta da família seguiu para que a certidão de óbito refletisse a verdade dos fatos.

Durante décadas, minha avó silenciou por medo. Minha família carregou essa dor calada. Agora, parte dessa dor se transformou em justiça. Essa conquista é para nós, mas também para todas as famílias que foram vítimas do regime militar e que ainda lutam por memória, verdade e justiça.

Ditadura Nunca Mais!!!


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