No dia a dia, vestir o boné, significa compromisso. Significa dizer sou a favor de…, ou estou junto nesta luta, sou solidário.
O poder no Brasil, sempre vestiu bonés. No Brasil colonial, reinava o boné da família real, que se quer morava no Brasil. No império, pós independência, era o boné das grandes oligarquias do café, da cana, dos escravocratas. Na ditadura militar o boné tinha a bandeira do capitalismo selvagem, ou da luta anticomunismo. O pós ditadura vestiu descaradamente o boné do neoliberalismo. Fernando Henrique não precisava de nenhum boné em sua cabeça, pois tinha a cara marcada com o compromisso das privatizações, do desmonte do estado, da cartilha liberal norte-americana.
Na era do Brasil onde a esperança venceu o medo, temos um presidente que ousa vestir o boné de um movimento popular. E vestiu num gesto concreto, em frente a imprensa, para toda a Nação assistir. Não foi nos bastidores, ou em grandes conchavos com dois ou três super poderosos. Vestiu um boné de um movimento que nada tem a ver com os roubos da Previdência, ou com as contas em paraísos fiscais, com os Lalaus, os PCs, os Collor, Maluf, Pitas, ou com o crime organizado. Vestiu o boné de um movimento que reúne os pés descalços, os excluídos. É claro que o MST é o movimento mais bem organizado deste país. É politizado, tem estratégia defenida e por isso polemiza todas suas ações. Por ser polêmico enfrenta duras críticas. Já foi visto como o movimento que queria desestabilizar governos com intuito de favorecer o PT, mas com o PT no governo continua com a mesma forma de organizar a luta pela reforma agrária.
Lula protagonizou com o boné do MST, um seriado de bonés. Virão muitos outros. Todos tentaremos fazer o Lula vestir nosso boné. As fábricas de bonés estarão em alta. Todos os movimentos terão o seu na esperança de vê-lo na cabeça do nosso presidente para uma pose histórica. Eu sonho em ver o Lula vestindo todos os que carregam mensagens de esperança, de solidariedade e com profundo conteúdo de justiça social. E quando eu tiver a oportunidade de falar com ele entregarei uma lista de bonés que são representativos para a história do nosso Brasil: O boné do movimento negro, dos meninos e meninas de rua, dos movimentos de mulheres, dos seringueiros, dos povos indígenas… Muito embora isso será o mesmo que ensinar o padre a rezar a missa, pois o Lula não só conhece, como aposta em cada um deles como instrumento de transformação social.
Histórica mesmo é a atitude do Lula. Com seu gesto ele reafirma o compromisso com a democracia e inclui um setor importante como sujeito da história desse país: o Movimento Popular. Isso mesmo, por que a nossa história sempre foi contada a partir dos que vestiam o boné das elites, das oligarquias, dos donos do poder e do saber. Canudos, palmares, foram massacrados por ousarem olhar o mundo com outros olhos, e o massacre foi orientado pelos governos sobre o lema “manter a ordem.” Os ideais de Zumbi, de Antônio Conselheiro só foram reconhecidos séculos depois. O mundo gira muito rápido e não podemos mais esperar gerações para reconhecer os ideais dos movimentos que brotam no seio dos excluídos.
Lula com o gesto do boné nos provoca a olhar para os lados e nos convida a adotarmos uma nova prática de relação de Poder. A prática do respeito às diferenças e do direito de lutarmos por ideais de transformação. Um fato histórico como este só podia ser construído numa cena com dois grandes atores desse palco chamado Brasil: Lula e o MST.
Autor: Luciana Rafagnin