Uma em cada três agricultoras do Sudoeste do Paraná tem chance de desenvolver tipos mais agressivos de câncer de mama por causa da exposição aos agrotóxicos. Essas patologias comprometem a genética do sistema imunológico das sudoestinas, enfraquecendo a defesa do organismo contra a doença.
A preocupação com a saúde das mulheres agricultoras do Sudoeste do Paraná, região com alta incidência de câncer de mama de elevada letalidade, se comparada com o restante do Brasil e mesmo dentro do estado do Paraná, motivou um encontro, esta semana em modo remoto, com cerca de 70 agricultoras, representantes da comunidade científica da região, lideranças políticas, dos coletivos municipais de mulheres e a deputada estadual Luciana Rafagnin (PT), líder do Bloco Parlamentar na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Os dados extraídos de uma pesquisa feita pelo Hospital do Câncer de Francisco Beltrão (Ceonc) junto aos 27 municípios da 8ª Regional de Saúde, apontam que o Sudoeste do Paraná tem 41,4% mais casos de câncer de mama do que o restante do Brasil, com mortalidade 14% maior que a nacional e 17% acima da mortalidade por câncer de mama registrada no Estado do Paraná.
Diversas pesquisas realizadas pelo Laboratório de Biologia de Tumores e pelo Grupo de Estudos Territoriais – GETTER da Unioeste (Campus Francisco Beltrão) nos últimos anos, em parceria com várias instituições médicas e científicas do Brasil e de fora, como o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a Fiocruz e a Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, apontam que a exposição aos agrotóxicos é a principal causa de as agricultoras sudoestinas terem 32% mais chances de desenvolverem câncer de mama que outras mulheres que não manipulam esse tipo de veneno agrícola, como as moradoras da área urbana da mesma localidade.
Em outras palavras, uma em cada três mulheres expostas aos agrotóxicos no Sudoeste do Paraná, via contaminação especialmente pela pele, por diversas formas de manipulação, inclusive a simples lavagem de roupas e utensílios contaminados, sem o uso de equipamentos adequados de proteção, vai desenvolver câncer de mama. Os estudos também indicam outro agravante dessa situação: mais da metade (54%) das mulheres que desenvolvem o câncer de mama pela exposição aos pesticidas correm risco de a doença progredir por metástase, ou seja, até de morrerem por esse mal.
A contaminação das águas e a qualidade com que esse recurso chega às torneiras dos consumidores residenciais na região, pela medição e presença de componentes dos agroquímicos em amostras coletadas, também foi notícia e motivo de atenção por parte das comunidades acadêmicas, científica, de classe e do meio político do Sudoeste.
Após apresentação da coordenadora do Laboratório de Biologia de Tumores da Unioeste/Campus Francisco Beltrão, Profª Drª Carolina Panis, e informações também do Prof. Dr. Luciano Candiotto, do GETTER/Unioeste na reunião desta semana, a deputada Luciana argumentou que o governo do estado precisa desenvolver um programa que de fato valorize a pesquisa e os investimentos na produção científica paranaense para aprofundar o diagnóstico e a resposta eficiente a essa grave situação. Em paralelo, precisa fortalecer os trabalhos da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) para apoiar e incentivar os agricultores familiares a fazerem a conversão das lavouras convencionais para orgânicas e agroecológicas, com garantia de renda, de comercialização e de mais saúde para o povo do Sudoeste. As patologias mais agressivas, identificadas pelas pesquisas acadêmicas, comprometem a genética do sistema imunológico das agricultoras sudoestinas, enfraquecendo a defesa do organismo contra a doença e prejudicando o desenvolvimento da população. Exames laboratoriais ainda atestam a presença de resíduos de agrotóxicos no leite materno.
A deputada Luciana citou na reunião, ainda a necessidade tanto de efetivar o programa da alimentação escolar 100% orgânica, cuja lei estadual surgiu de uma iniciativa sua em 2010, junto com outros dois parlamentares na época, que foi regulamenta por decreto só em 2019, quanto assegurar – matéria de outra iniciativa de Luciana – que essa compra de alimentos para a merenda escolar seja exclusiva da agricultura familiar e camponesa.
A Profª Drª Carolina Panis também defendeu, em sua exposição, a criação de um núcleo regional de vigilância na área de pesticidas, que monitore os níveis de exposição nas populações diretamente afetadas, com exames e avaliações periódicas, que preste serviços aos hospitais, recomende práticas e padrões adequados para evitar intoxicações, entre outras demandas. Hoje, estudantes da região, a partir desses trabalhos de investigação, continuam suas pesquisas sobre o tema, em nível de doutorado, no Rio de Janeiro e até no Canadá e, graças a esses resultados, o Sudoeste consegue perceber a gravidade da situação e propor soluções e alternativas para prevenir e enfrentar o problema.
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Fonte: Assessoria de Comunicação do Mandato da Deputada Luciana
Autor: Thea Tavares