Quanto vale a maior empresa mineradora do mundo, que produz, beneficia e transporta mais de 100 milhões de toneladas de minérios?. A Companhia Vale do Rio Doce tem como matéria prima o subsolo do Brasil
Por Mário Milani
Quanto vale a maior empresa mineradora do mundo, que produz, beneficia e transporta mais de 100 milhões de toneladas de minérios?. A Companhia Vale do Rio Doce tem como matéria prima o subsolo do Brasil. Uma empresa gigantesca construída com recursos e suor do povo brasileiro, a Vale que foi privatizada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, retira do solo riquezas infindáveis: ouro, cobre, caulim, bauxita, alumina e alumínio, madeira, papel, celulose, fertilizantes, aço, ligas e até urânio. Agora, teve seu leilão embargado pelo Tribunal Regional Federal de Brasília para que se faça uma perícia técnica dos valores pagos e seu real patrimônio.
É riqueza brasileira que foi parar nas mãos de uma multinacional. As reservas estimadas que somam 41,5 bilhões de toneladas de minério de ferro, 678 milhões de toneladas de bauxita, 994 milhões de toneladas de cobre, 72 milhões de toneladas de manganês e 250 toneladas de ouro, às quais se agregam quase 600 mil hectares de florestas comerciais. Ainda que a produção, beneficiamento e transporte de minério constituam o núcleo central de suas operações, a Vale é muito mais do que uma empresa mineradora. São mais de 60 empresas nacionais e internacionais articuladas em um enorme complexo que opera em dez estados brasileiros, tem clientes em mais de 30 países e é ao mesmo tempo o maior exportador do país e o maior exportador mundial de minério de ferro. E ainda mais: com capacidade de atrair investimentos e financiamentos externos, realizar parcerias estratégicas e manter uma inserção competitiva num mercado internacional comandado por oligopólios.
Apesar deste patrimônio, em maio de 1997, a Vale do Rio Doce foi vendida a preço de banana. O governo Fernando Henrique Cardoso vendeu 41,73% das ações da empresa por R$ 3,34 bilhões. Após muitas denúncias e ações populares, a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal – TRF, de Brasília, decidiu que a privatização da Vale passará por uma minuciosa perícia técnica para apurar se o valor foi subestimado. A desembargadora federal Selene Maria de Almeida acatou as iniciativas das entidades organizadas afirmando que “há que se ter presente que as ações populares têm por objetivo, dentre outros, a recomposição do patrimônio lesado. As alegações relativas aos critérios de avaliação do patrimônio da Vale ganham relevo, pois, se corretas, a eventual sub-avaliação terá levado a um enorme prejuízo ao patrimônio público, dada a grandiosidade do patrimônio da empresa”. O valor estimado do patrimônio líquido da CVRD é de aproximadamente R$ 40 bilhões. Pior: o grupo do PSDB não teve o cuidado de reservar ao governo uma “Ação Gold Share” – que daria ao poder público o direito de veto a negócios escabrosos e perniciosos ao interesse nacional, mesmo mecanismo jurídico que existe hoje em relação a Embraer. O Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo, Adriano Benayon do Amaral, acusa que a empresa brasileira , no mínimo, “em razão dos seus ativos deveria ser vendida por U$2 trilhões de dólares, sendo que atingiu pouco mais de 0,15% daquela quantia.”
É bom lembrar que a Vale foi destaque na imprensa brasileira por ter apresentado no primeiro semestre de 2006 um lucro de R$ 6,1 bilhões. Em 2005, o lucro líquido da empresa se aproximou de R$ 10 bilhões, sem incorporar a valorização do patrimônio e os investimentos realizados. Ou seja, a Vale privatizada lucra por ano quase o triplo do valor pelo qual foi comprada. Boa parte desse lucro é enviada ao exterior. Atualmente, cerca de 63% do capital preferencial da Vale é estrangeiro e apenas 3,3% pertence ao governo federal. É bom fazer as contas. Na visão dos movimentos sociais, foi um excelente negócio para os compradores e um péssimo negócio para o Brasil: “este rio de dinheiro poderia ser usado para o crescimento nacional, para geração de emprego e renda, moradia, escolas, estradas e saúde.
Não se admite mais que o patrimônio de um povo seja submetido a interesses escusos, diferentes dos interesses de uma nação. A sociedade organizada deve reagir a exemplo do que aconteceu no Paraná, quando entidades populares conseguiram reverter um processo pernicioso que colocava a venda a Companhia Paranaense de Energia, a Copel. A empresa estatal só não foi leiloada em razão da intervenção do movimento social organizado. A venda da Vale certamente contempla uma minoria em detrimento de uma grande maioria. Além do que a Iniciativa fere a Constituição do Brasil e o povo brasileiro. Um crime lesa-pátria sem precedentes na história recente da nação. Afinal, quanto vale a Vale?
Mário Milani é jornalista e editor-chefe da revista Bem Público. Acesse Bem Público na Internet: http://www.bempublico.com.br/