A população do Sudoeste está assustada com o aumento da gravidade dos acidentes registrados nas estradas da região. A maior parte dos casos envolve jovens, com idade entre 20 e 30 anos, e ocorre aos finais de semanas

Reportagem publicada dia 10/07/2009 no jornal Hora Popular, de Francisco Beltrão. A morte pede caronaPor Thea Tavares

Curitiba, PR (08/07/2009) – A população do Sudoeste está assustada com o aumento da gravidade dos acidentes registrados nas estradas da região. A maior parte dos casos envolve jovens, com idade entre 20 e 30 anos, e ocorre aos finais de semanas. De acordo com o Batalhão de Polícia Rodoviária do Paraná, ocorreram 732 acidentes com 70 mortos e 665 feridos nas rodovias da região desde 1º de janeiro até 30 de junho de 2009. No mesmo período do ano passado, foram 804 acidentes, que resultaram em 47 mortes e 695 pessoas feridas. Embora o número de ocorrências seja menor — 72 casos a menos que em 2008 —, aumentou significativamente a gravidade desses acidentes, uma vez que foram registradas 23 mortes a mais que no primeiro semestre do ano passado. “Temos de dar um basta nessa situação, que está aleijando as famílias do Sudoeste e encurtando a expectativa de vida da nossa gente”, declarou a deputada Luciana Rafagnin (PT). A parlamentar propõe uma mobilização popular e a intensificação das campanhas de conscientização pelos órgãos públicos e meios de comunicação, com a finalidade de orientar melhor os motoristas para os perigos nas estradas da região e nas vias públicas das cidades. Somente em maio deste ano, morreram 26 pessoas nas estradas do Sudoeste, envolvidas em 126 acidentes rodoviários. Essas mortes representam 37% das vítimas fatais registradas desde janeiro. “É necessário somar esforços e distribuir responsabilidades para que a sociedade assuma o compromisso com a solução desse problema, não só por meio dos organismos do poder público, mas também pelas escolas, igrejas e a partir da conscientização das famílias. A intenção é de que isso possa barrar a violência antes que ela pegue a estrada”, reforçou a deputada. Luciana também acredita que as mulheres, as mães, têm um papel importante a desenvolver nessa empreitada. O drama das famílias se repete a cada final de semana A falta de atrativos culturais e de lazer voltados para a juventude nos municípios, associada à combinação do calendário de festas regionais, de modo que elas se alternem — conforme impressões que as autoridades policiais têm e que são baseadas na análise das estatísticas —, pode estar entre os fatores que contribuem para a alta incidência de acidentes com jovens nos finais de semana. A proximidade das cidades da região também favorece o deslocamento em busca de diversão. “Essa dor da perda que estamos vivendo se repete a cada final de semana com outras famílias”, comenta Noeli Rosin Sandri, que é tia de três jovens envolvidos em um acidente no município de Realeza no mês passado, no qual quatro pessoas perderam a vida. A combinação de juventude, consumo de álcool, direção e alta velocidade teve um desfecho trágico por lá. Dois sobrinhos dela morreram no momento do acidente e um encontra-se em coma induzido em hospital de Francisco Beltrão. Noeli diz que a família ainda não conseguiu assimilar tudo o que aconteceu, até porque um dos rapazes continua hospitalizado e a atenção dos parentes está concentrada na vigília à saúde da vítima, mas ela gostaria que as pessoas tirassem dessa tragédia uma lição de vida. “É preciso prestar mais atenção à juventude e às suas necessidades. Também, é preciso estimular, por meio de políticas públicas, novas formas de diversão que sejam saudáveis. A criação de teatros, cinemas ou o incentivo à prática do esporte podem ser alternativas para atrair os jovens a outras possibilidades de divertimento que não só aquelas relacionadas à bebida e a dirigir em alta velocidade”, reforça Noeli. Lei seca mais rigorosa em Realeza para estancar a violência no trânsito Em Realeza, município da região fronteiriça do Sudoeste do Paraná, a lei seca deve ganhar uma versão mais rigorosa, tão logo seja aprovado pela Câmara Municipal um projeto do Executivo que visa restringir a venda de bebidas alcoólicas em bares, restaurantes e nos bailes e festas que ocorrem aos finais de semana. O PL 19/2009 limita tanto o horário de funcionamento, quanto a própria venda das bebidas no balcão do estabelecimento. Pela proposta de lei, bares e similares só podem atender a clientela das 8h às 22h e essa restrição deve constar já no alvará de funcionamento emitido pela prefeitura. Não estão sujeitos a essa limitação os bares de hotéis e pousadas, os clubes, associações, entrepostos nos terminais rodoviários, shoppings e panificadoras, embora esses também fiquem impedidos de comercializar bebidas alcoólicas após às 22h. Os restaurantes, pizzarias e lanchonetes, bem como as boates, danceterias, shows, bailes e feiras poderão estender o horário de funcionamento, desde que limitem a venda de bebidas alcoólicas até às 22h de segunda a quinta e aos domingo e até às 24h nas sextas-feiras e aos sábados. Esses locais de grande concentração de pessoas e os eventos populares terão de dispor de detector de metais nas vias de acesso e os organizadores têm de informar antecipadamente às polícias civil e militar os nomes dos trabalhadores do serviço de segurança. O município também quer proibir a realização das festas “raves” e a venda de bebidas em eventos esportivos, bem como o consumo e aglomeração em postos de combustíveis. “As estradas do Sudoeste viraram fábricas de mortos”, diz prefeito de Realeza O que motiva a prefeitura de Realeza, o magistrado regional e a polícia local a fecharem o cerco aos motoristas embriagados dentro da cidade e nas rodovias que cortam o município é o grande número de acidentes envolvendo esse tipo de imprudência ao volante. “Mais do que um caso de polícia, essas tragédias são um pesadelo para a saúde pública”, informa o prefeito do município, Eduardo Gaievski. “As estradas da região viraram fábricas de mortos”, argumenta. Gaievski diz que a intenção ao adotar medidas mais rigorosas na prevenção, fiscalização e punição das infrações de trânsito não é impedir as pessoas de beberem, mas de dirigirem embriagadas. A prefeitura de Realeza adquiriu recentemente um aparelho de bafômetro e um medidor de poluição sonora, no valor aproximado de R$ 9 mil, que doou para o pelotão da Polícia Militar do município a fim de reforçar a fiscalização dentro da cidade e dar suporte à ação da polícia rodoviária nas estradas. “É também costume realizarmos blitz em conjunto para prevenir e orientar os motoristas”, lembra o prefeito. Ele informa que tem consultado a população sobre o rigor desta lei e diz que a medida conta com o apoio da maioria das pessoas. “As tragédias saltam aos olhos e as sucessivas perdas de jovens estão motivando as famílias a abraçarem leis mais rigorosas de combate à violência no trânsito sob o risco de, se não endurecermos agora, termos de arcar com prejuízos maiores lá na frente”, afirma. “A gente esbarra em uma questão cultural forte. Para uma ação dessas funcionar, tem de doer no bolso, tem de fiscalizar e multar, senão não muda comportamento”, completa. O BPTran do Paraná informou que somente na rodovia que liga a BR-277, na região Oeste, à Realeza — PRC 163 e PR 182 — foram registrados este ano 88 acidentes com 70 feridos e oito mortos. No ano passado, no mesmo período, foram 94 acidentes com 91 feridos e três vítimas fatais, cinco a menos que em 2009, o que confirma também o aumento na gravidade das ocorrências. Uma contagem não oficial, realizada com o intuito de estudar a possibilidade de criação de uma praça de pedágio na região, apontou que diariamente circulam, em média, a mesma quantidade ou mais de carros e caminhões no trecho rodoviário entre Realeza e Cascavel do que o registrado nas praças de pedágio da BR-277 em Cascavel, Laranjeiras do Sul e Candói. “A rodovia que vai à Cascavel funciona como desvio de pedágio e isso faz aumentar o tráfego na região. Estima-se que passem de 4.500 a 6.000 veículos por ela diariamente, o que é igual ou maior que a média de circulação diária registrada nos pedágios de Cascavel, Laranjeiras do Sul e Candói no mês de maio/2009, que foi, respectivamente, de 4.566 veículos/dia, 3.766 e 5.350”, conclui Gaievski. No IML – Instituto Médico Legal – de Francisco Beltrão, para onde são encaminhados os corpos das vítimas de mortes violentas ocorridas em 25 municípios, foram realizadas 156 necrópsias de janeiro a junho. Estima-se que aproximadamente 90% dessas mortes estejam relacionadas a acidentes de trânsito ocorridos nas estradas e nas vias públicas das cidades da microrregião.

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