Muito me chamou a atenção a divulgação de que o “Paraná é o 1º Estado a recolher embalagens de agrotóxicos”, mas completo – a arma do crime. Um crime, uma arma. Para identificar o criminoso, procura-se uma arma. Quem estiver com ela será no mínimo suspeito, Então é melhor livrar-se dela. Mas e o crime? Em tempo de conferências regionais sobre o meio ambiente é preciso que nos juntemos e encontremos soluções eficazes para o problema.
Absolvição do crime, assim podemos caracterizar o programa de recolhimento de embalagem de agrotóxicos, aquele que explica a tríplice lavagem: “livre-se da embalagem que deixarás de ser suspeito.” Com a tríplice lavagem, a embalagem retém 0,001% do produto, praticamente deixa de ser agente de contaminação, 99,999% do agrotóxico foi lançado ao solo e por conseguinte no ar e na água.
Por que então propagandiar o programa de recolhimento de embalagens como se fosse a solução para o problema. Claro que toda e qualquer idéia de reciclagem é louvável e bem vinda. Mas então, vamos tratar o programa como tal e não usá-lo para desviar a atenção da sociedade do foco principal. A exigência da tríplice lavagem é a prova de que quem recolhe a embalagem está interessado no plástico e não no problema da contaminação. Para os que gostam de refletir significa dizer: “Eu recolho a embalagem desde que ela esteja livre de resíduos.” Seria muito mais bonito e ético o programa ser tratado como um projeto convencional de reciclagem.
O efeito do programa é visual: A presença de embalagens numa propriedade denuncia o uso. A ausência alivia a consciência, mas não o problema. A sociedade sabe que a solução definitiva seria deixar de usar agrotóxicos. Mas entende também que uma atitude drástica desse nível poderia representar um risco. Não existe uma solução mágica. A solução está na capacidade que a sociedade tem de buscar alternativas, e neste caso a principal alternativa está na produção agro-ecológica, onde são dispensados os agrotóxicos e produtos químicos. Projetos humildes e silenciosos já existem em nosso meio. É preciso que os produtores se conscientizem, que o consumidor valorize e o governo através de suas instituições de pesquisa, de crédito e de assistência técnica, estrategicamente aposte na produção agro-ecológica como forma de preservação do meio ambiente e de melhoria da qualidade de vida do ser humano.
O programa de recolhimento de embalagens, da forma como está sendo realizada, retarda a busca de soluções eficazes, e isso só ajuda a indústria dos agrotóxicos. Infelizmente esses programas fazem o jogo do capitalismo e não da melhor qualidade de vida e conscientização. Mas que consciência, depois do líquido venenoso ser lançado ao meio ambiente recolher as embalagens, o crime já foi cometido! E a absolvição é rápida.
Autor: Lizandra Pirin, geógrafa