Artigo do acadêmico Flávio Evandro Pereira, de Francisco Beltrão, publicado no Jornal de Beltrão no dia 1º/09/2005, página 1B. Não se abandona um patrimônio como o do PT, como quem muda de roupa, por mais incômoda que esta tenha se tornado
Artigo do acadêmico Flávio Evandro Pereira, de Francisco Beltrão, publicado no Jornal de Beltrão no dia 1º/09/2005, página 1B. Não se abandona um patrimônio como o do PT, como quem muda de roupa, por mais incômoda que esta tenha se tornado. Não podemos apagar da historia brasileira a biografia de um operário que chegou a presidência da republica, não podemos nos esquecer do compromisso do PT para com o sofrido povo brasileiro. Sair do PT é apenas uma parte da posição assumida perfeitamente possível. Como diria Lênin, o que fazer? Simplesmente ir embora, ir para casa, desanimar, abandonar a luta. A luta da militância revolucionária, desinteressada, de luta pelos ideais da humanidade, pelos direitos dos trabalhadores, a luta pela construção de uma sociedade, sem exploração, sem discriminação, nem opressão. Abandonar a militância como atividade ética, não remunerada, de entrega aos valores de luta pela emancipação do povo, pelos interesses dos mais pobres, dos mais fracos e oprimidos. Simplesmente não faz sentido abandonar o barco agora, mas infelizmente vemos muitos companheiros renegando seu passado e saindo do partido ainda na data limite para poder encontrar outra legenda em que possam se candidatar, transparecendo assim um puro oportunismo eleitoreiro. Já basta o PSOL, que na raiz comprometeu a possibilidade de uma polarização unificadora à esquerda do PT, ao fundar as pressas um novo partido, com uma visão eleitoral, dado que a campanha de fundação foi uma campanha de assinaturas para conseguir sua legalização e não um grande debate com o povo brasileiro.
Corrupção, nega-la seria demagogia, para nos esquerdistas, a corrupção significa um crime muito mais grave, é a apropriação dos bens públicos, desvio de impostos arrecadados dos trabalhadores, da população para mãos privadas. Significa o estupro da política. Significa acima de tudo desviar recursos que deveriam ser canalizados para afirmar direitos do conjunto do povo para vantagens e interesses pessoais. É, portanto, muito mais do que simplesmente um crime. E quando é praticado pela esquerda, se torna ainda mais indesculpável, porque a iguala à direita, porque favorece o rebaixamento da esquerda ao mesmo patamar da clientelista direita, porque desvia as atenções dos maiores problemas do país, dos problemas desse sofrido povo, para um problema de corrupção. E porque se trata de políticos identificados com a causa do povo apropriando-se de recursos públicos para objetivos privados. Por isso temos que lutar pela moralidade na política, pela ética e contra a corrupção e de forma alguma negar a nossa origem e todo o nosso passado de luta.
Infelizmente companheiros e ex-companheiros erguem suas vozes para criticar o governo, porem, sem uma proposta concreta de mudança, contando apenas com o discurso, muitas vezes vazio. Mas quem melhor do que uma voz proveniente da esquerda para condenar um governo eleito pela mesma? Triste espetáculo de parlamentares que se pretendem de esquerda, que não se diferenciam em nada das denúncias e do vocabulário dos tradicionais parlamentares da direita, do bloco PFL/PSDB! Para a esquerda, a ética é tão importante que não pode ser manipulada pela direita, protagonista dos maiores casos de corrupção e privataria da historia brasileira.
Portanto, não devemos baixar as nossas cabeças, muito pelo contrario, temos que levanta-las e lutar pelo resgate da política e da nossa militância como uma coisa completamente oposta a esse sistema que hoje domina a nossa política, lutar contra a mercantilização das campanhas eleitorais, do nosso partido político, e também combater a mídia oportunista. E sobretudo lembrar que a luta contra a corrupção é também uma luta contra a corrupção dos nossos valores ideológicos.
** Flavio Evandro Pereira, acadêmico de historia na Unipar, repórter da Radio Comunitária Anawin e coordenador do PT jovem de Francisco Beltrão.